"Um problema que levanta muitas questões, exige múltiplas respostas" - veja o texto de apresentação do movimento Planeta Sustentável e conheça melhor essa iniciativa
Sustentabilidade é essencial
A idéia da sustentabilidade, por si só, não poderá nos tirar das encrencas econômicas, sociais, ambientais e culturais em que nos metemos enquanto estávamos entretidos em competir e acumular. Só nós, mudando o padrão de ação no mundo, conseguiremos reverter as ameaças que hoje nos afligem.
Planeta Sustentável - 02/04/2008
Sustentabilidade é um termo que tem se colocado muito presente no repertório cultural contemporâneo. Flexível, com boa elasticidade no plano da linguagem, ele tanto tem servido para enriquecer a conversa casual das tardes de domingo como para alavancar carreiras ou amparar interesses. Mas haverá aí, nessa noção cotidiana de sustentabilidade, algo mais do que apenas linguagem com boa capacidade de modelagem e adaptação? Haverá substância capaz de induzir inovações e propor transformações estruturais a longo prazo no modus operandi do modernismo, erradicando assimetrias que continuamente nos afligem?
O fato é que, como sociedade, temos avançado pouco em direção a cenários econômicos, sociais e ambientais estruturalmente melhores, mesmo após décadas de iniciativas de mobilização social, mesmo após tantas e repetidas campanhas - dos mais variados motes, de inúmeras ONGs, mesmo com a ampliação dos mecanismos de participação popular e a contundência teimosa do jornalismo documental. Não parecemos avançar para patamares sociais estruturalmente melhores, mesmo articulando melhor o discurso sobre sustentabilidade e aumentando a quantidade de ações dirigidas para os diversos segmentos da sociedade. Talvez porque tudo isso que estamos fazendo seja apenas mais do mesmo. Em outras palavras, temos evoluído em inúmeras frentes com bons retornos de imagem e bônus de consciência, mas a África precisa continuar existindo.
Num plano bem mais simples, por exemplo, diante da "publicidade colorida e esfuziante" das organizações contemporâneas declaradamente envolvidas com sustentabilidade, permanecem algumas questões parcialmente sem resposta: uma que indaga sobre a legitimidade do que estão fazendo, dada a natureza e os contornos estabelecidos por seu mandato social; outra que procura levantar o quanto essas ações, por seu caráter assistencialista e naturalmente continuista podem impedir, ou adiar, transformações sociais necessárias; outra, ainda, que levanta o quanto essas ações de diferentes organizações desarticulam a ação de líderes comunitários naturais, esvaziando o seu poder de mobilização e empurrando-os para a política partidária e suas limitações. No fim das contas, essas e outras questões se propõem a procurar avaliar se e como estamos avançando em direção a uma sociedade mais sintonizada com a qualidade de vida não do indivíduo isolado, entregue à solidão da liberdade moderna, mas do coletivo humano.
A propósito, conseguiremos ainda, após tantas seduções do mercado e das instituições neo-liberais, resgatar o sentido de coletivo e construir novos significados para a ação humana? Será possível alguma interferência no curso apontado por Zygmunt Bauman em que cada vez mais se espera que [o trabalho] seja satisfatório por si mesmo e em si mesmo, e não mais medido pelos efeitos genuínos ou possíveis que traz a nossos semelhantes na humanidade ou ao poder da nação e do pais, e menos ainda à bem aventurança das futuras gerações"? [Modernidade Liquida, Bauman, 2001, Zahar].
Importante, penso, afirmar que há novos significados e novos horizontes para além da habilidade de compor visuais, seguir rituais, concluir tarefas repetitivas, aparentar engajamento, fazer carreira, fazer poupança, agradar os chefes, ensinar em uma boa escola, escrever um livro, plantar uma árvore, fazer caridade, separar o lixo, ter um filho, deixar de fumar, ir à missa aos domingos, falar articuladamente sobre sustentabilidade, respeitar os mais velhos e se aposentar com uma boa história de vida para contar. Importante afirmar isso quando olhamos os investimentos em infra-estrutura não se traduzirem em aumento da felicidade dos povos; ou quando nos damos conta de que o racional rejeita a intuição e a experiência pessoal e o acesso.
A sustentabilidade nos é revelada diariamente por meio de artigos, editoriais, matérias de capa, reportagens, eventos, denúncias do ministério público, outdoors, palestras, passeios no parque, conversas casuais, aulas, discursos, programas de entrevistas, espetáculos beneficentes e inúmeros artefatos publicitários. Ela nos chega por todos os lados, sempre como linguagem acabada, muito pouco no formato de assimetrias qualificadas, que exigem entendimento, mobilização e enfrentamento, ou de significados, que exigem avaliação e posicionamento político; nos chega em fragmentos de falas que vamos superpondo, como substratos de um sambaqui, e que produzem um sentimento impreciso de avanço e um certo formigamento intelectual: parecemos saber o que significa sustentabilidade, nos sentimos esperançosos que estamos progredindo como sociedade e isso parece bastar.
Exatamente por conta da sua atualidade e da aparente suficiência de seu discurso, a idéia de sustentabilidade logra conviver em certa harmonia com acentuadas contradições de fundo. A desconexão intencional entre a idéia de sustentabilidade e uma esperança de sustentabilidade permite que, ao final, reste pouco mais do que um punhado de "boas práticas" e de realizações alardeadas pelos pragmáticos que, entretanto, 1) reduzem a realidade ao conteúdo sem profundidade do discurso de celebração e 2) adiam as transformações estruturais necessárias para influenciar a qualidade de vida de enormes populações do planeta. A desconexão é tão recorrente que, até por expor as nossas próprias contradições, não há como evitar a pergunta: a serviço de que, afinal, temos colocado a idéia de sustentabilidade?
Parece bastar a uma parcela significativa de formadores de opinião, por exemplo, a neutralização do carbono ou os investimentos em educação de jovens de segmentos sociais marginalizados, como se a reinvenção do cotidiano - com uma redução drástica das emissões e a substituição da matriz energética e o acesso ao mercado de trabalho em condições de equivalência, não fizesse parte da agenda, mesmo a médio prazo.
O dilema que se coloca no enfrentamento das questões de sustentabilidade não é de natureza conceitual, mas metodológica e, nesse sentido, política. As soluções legitimadas para as questões que afligem a sociedade contemporânea e comprometem a qualidade de vida das atuais e futuras gerações são complexas e requerem bem mais do que o good will de diferentes atores sociais. Requerem formulação conjunta de diagnósticos, processos e resultados futuros; requerem complementaridade e, sobretudo, requerem que se realizem objetivos pontuais realizando, simultaneamente, objetivos coletivos. Finalmente, requerem organizações que se proponham a fazer parte desse esforço e se preocupem menos em obter retornos de imagem por iniciativas isoladas de caráter benevolente.
Vivemos em um ambiente social que supervaloriza o empreendedorismo de Schumpeter sem criar, porém, salvaguardas para as suas potenciais externalidades. Temos, assim, uma espécie de sustentabilidade de morro abaixo, capitaneada por uma nova elite e medida em iniciativas e realizações físicas pontuais, porém descontextualizadas de um sentido mais amplo de coletivo; temos uma sustentabilidade que ganha corpo embalada pela oferta de pragmatismos na comunicação de massa, mas que se mostra pífia quando se trata das questões de fundo relacionadas à qualidade de vida e à equidade entre os povos. Conseguirão, então, os diferentes atores, [conseguiremos nós] , nessa modernidade ambivalente, aceitar uma responsabilidade social traduzida por um compromisso com a qualidade de vida e a felicidade do coletivo humano? Conseguiremos contextualizar as consequências da maximização do consumo e dos retornos individuais, evoluindo para concepções inovadoras de participação social na busca de retornos coletivos capazes de reduzir progressivamente as desigualdades? Ou nos manteremos fiéis a processos privados, continuando a servir às estruturas de poder de que fazemos parte?
De fato, a idéia da sustentabilidade por si só não poderá nos tirar das encrencas econômicas, sociais, ambientais e culturais em que nos metemos enquanto estávamos entretidos em competir e acumular. Ela será sempre só a idéia de sustentabilidade, capaz de produzir um certo efeito cênico com o poder relativo de amenizar as nossas angústias em relação às inequidades que promovemos e com que convivemos. Só nós, mudando o padrão de ação no mundo, conseguiremos reverter as ameaças que hoje nos afligem. E aí, a idéia de sustentabilidade será mais do que útil, será essencial!
Fonte:
http://planetasustentavel.abril.uol.com.br/home/
QUEM DISSE QUE NÃO ESTAMOS PREOCUPADO COM O MEIO AMBIENTE .
Aqui vou lhes aprenta uma ONG que muito tem se preocupado com a questão do meio ambiente e sua sustentabilidade .A FBDS é uma entidade que pensa e estrutura projetos de desenvolvimento sustentável, graças a uma organização que concilia a fronteira do conhecimento com capacidade gerencial.Esse site nos faz lembrar muito o quanto a conciencia coletiva e boas idéias podem mudar nossa maneira de ver o ambiente que vivemos.
O site é :http://www.fbds.org.br/